Brasília, cidade-parque

Uma das coisas que mais me impressionam em Brasília é a imensidão do verde. A capital federal chega a superar os 12 km² por habitante recomendaIMG_20140525_150800334dos pela Organização Mundial da Saúde.

Como moradora do Plano Piloto (aquele mapinha em formato de avião), cito para vocês o Parque da Cidade, o Olhos D’Água, o da Asa Sul e ainda o Bosque do Sudoeste (bairro que fica no “suvaco” da Asa Sul).

De acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o Distrito Federal todo possui 68 parques criados por decreto.

É inegável a qualidade de vida que esses lugares proporcionam. Os moradores costumam fazer piqueniques, praticar esportes, passear com os totós. O verde faz bem pro corpo e pra alma!

Essa foto é de uma muda que foi plantada no canteiro do Eixão, a rodovia que corta o Plano Piloto. Não é trabalhoso criar um espaço verde. A grande questão é ter vontade de beneficiar a coletividade.

Não conheço de perto as experiências de outras regiões administrativas do Distrito Federal, mas quem luta atualmente pelo seu parque central é Águas Claras, uma das regiões administrativa do DF, apelidada pela Vejinha (a edição de cidades da revista Veja) de “Manhattan Candanga“. O parque central, assim, teria um status de Central Park!

Associação de Amigos e Moradores de Águas Claras vem pressionando o governo para que o projeto saia do papel e para frear a ocupação desenfreada do solo – a região é conhecida pela sua verticalização e a própria administração de Águas Claras a define como o maior canteiro de obras do Brasil. Torço para que a mobilização dos moradores consiga efetivar o Parque Central de Águas Claras!

Em Brasília, 19 horas

No dia 24 de junho próximo, fazem dois anos que enchi uma mala grande, usei minhas primeiras milhas da TAM e parti em direção à capital federal. Foi uma mudança brusca, mas não desmotivada: vim assumir vaga no funcionalismo público brasileiro.

Assim como eu, centenas de pessoas fizeram e continuam fazendo isso no país todo. E foi assim que me senti contemplada pela frase que o padre diz na missa: “Reuni em vós, Pai de misericórdia, todos os vossos filhos e filhas dispersos pelo mundo inteiro.”

DSCN0604Ainda me lembro da minha admiração ao percorrer de carro a Esplanada dos Ministérios – tudo tão amplo e grandioso  que eu me sentia uma formiguinha naquele vasto gramado. Não demorei muito a aprender a lógica dos endereços e a me mexer pela cidade de ônibus.

Até então, circulava somente pelo Plano Piloto e o traço do urbanista mexeu comigo. Os amplos espaços verdes, com muita grama à frente dos blocos de apartamentos e com muitas árvores, me fazia andar com cara de epifania eterna pela Asa Sul.

Durante nove meses morei em um pensionato feminino. Foi uma época difícil, mas que me proporcionou muitos aprendizados (especialmente no que se refere ao respeito ao espaço comum e à individualidade de cada pessoa) e me deu bons amigos. A saudade da família e a falta de uma referência de lar me machucavam. Ainda hoje, tenho o costume de andar pelas quadras olhando através das janelas, admirando a dinâmica de um típico lar plano-pilotense (acabei de criar o termo rsrs). Imagino que haja quem olhe através das minhas também – hoje sou moradora de uma superquadra.

Confesso para vocês que Fortaleza nunca sai do meu pensamento e que acompanho a dinâmica da cidade diariamente por meio dos relatos dos amigos que ficaram lá. No entanto, agora como cidadã do quadradinho, quero prestar mais atenção na minha nova rotina urbana e contar para vocês o que vejo por aqui.

Pirambu sempre lembrado

O Pirambu de padre Hélio e padre Caetano vingou. Hoje somos muitos (26,7 mil por km²!) e o desejo por melhorias nunca acabam. Os números do IBGE que apresentam o bairro como a sétima maior favela do Brasil (segundo dados do Censo 2010) podem levar quem não conhece este lugar a pensar que as coisas estão como dantes, mas muita coisa já mudou por aqui, revelando que não estamos esquecidos nas margens da terra alencarina.

O areal e os morros de outrora deram espaço a ruas pavimentadas (embora o asfalto já esteja deveras gasto), fizemos parte do Sanear I e, hoje, a urbanização promovida pelo Vila do Mar, que renasceu do antigo projeto Costa Oeste, dá um novo aspecto à orla e à autoestima do povo.

Há casas de todo tipo: térreas, duplex, tríplex, com calçada, sem calçada… Convivemos, sim, com o desordenamento – e não é difícil encontrar ruas que vão se estreitando, resultado de casas que avançaram rua à frente. Culpa do povo? Não totalmente. Não existem orientação nem fiscalização que ponham ordem nisso e ajudem as famílias a construírem moradias seguras e saudáveis. Em adição, continua pendente o processo de regularização fundiária.

A pesquisa do IBGE, para mim, não passa um juízo negativo sobre o bairro. Longe disso, abre-nos para uma nova perspectiva: a de que, definitivamente, não dá mais para ignorar as periferias nem isolá-las do restante da cidade. É preciso valorizá-las, investir numa infraestrutura que sirva não só aos de casa, mas à toda Fortaleza.

Tenho certeza de que o quase centenário padre Hélio e o belga padre Caetano se orgulhariam de viver este momento. Porém, nunca se contentariam e buscariam mais. O protagonismo e empoderamento dado ao povo por eles e por outras grandes lideranças funcionam como uma bandeira hasteada com a qual demarcamos nossa presença, para que sempre possamos ser lembrados.

[Texto escrito para a edição de 22 de dezembro do jornal O Povo]

Foto: Deivyson Teixeira/O Povo

Dia das Crianças

São oito da manhã e os adultos se apressam para pegar o ônibus e chegarem a seus empregos. Aguardam na parada pela linha que os levarão a seus locais de trabalho. O veículo assoma a alguns metros. Posicionamo-nos para, rápidos, sinalizarmos, subirmos e irmos embora.

Eis que, do outro lado da avenida, ouvem-se vozes de criança. Falam umas com as outras, gritam umas com as outras. São, pelo menos, umas dez. Vestem roupas surradas, portam varetas adornadas com borracha nas pontas que servem de malabares.

Os rostos são de quem acordou e não tomou banho, acordou e não tomou café, acordou e não tinha a mãe nem o pai para cuidar deles. Suas presenças na parada de ônibus da Leste-Oeste, esquina com avenida Pasteur, são bem frequentes. Perturbam os adultos apressados, pois quando veem o ônibus que segue até a Praia de Iracema, lançam-se à porta numa pressa e num desespero capaz de derrubar qualquer marmanjo.

Alguns cobradores já se condicionaram à presença dessas crianças. Uns deixam-nas subir e seguir viagem (a maioria é tão pequena que não tem nem idade para pagar passagem), outros gritam, mandando-as descer do veículo.

Na manhã de ontem, todas seguiram viagem. Quem pôde passar por baixo da catraca, passou; quem não pôde e, portanto, teria de pagar passagem, foi ameaçada pelo cobrador para que descesse bem antes do destino. Os gritos uns com os outros seguiram durante todo o percurso. Os demais passageiros se mostravam curiosos, olhavam para trás com frequência.

Na Praia de Iracema, todas as crianças desceram, mas seus gritos de protesto contra o cobrador ameaçador perduraram até que o ônibus se distanciasse. Passageiros ensaiaram um debate entre si. Um apostou que as mães estavam se prostituindo, outros reivindicaram a presença forte do governo na vida delas, outra se vangloriou por ter oito filhos, mas nenhum na situação dos pequenos que estavam no ônibus havia pouco.

No final das contas, sobrou uma pergunta: de quem é a responsabilidade? Não seria numa curta viagem de ônibus que iríamos respondê-la, pois a questão inclui muitas outras. Encerrando o debate, só restou a eles concluir, de forma irônica e sarcástica: esse é o futuro do Brasil.

Periferia

A despeito dos condomínios de apartamentos, dos vidros dos carros fechados e das ruas desertas, ela continua totalmente desinibida: a periferia. Pulsa freneticamente, tendo as ruas como veias e o povo como sangue.

O fluxo é deveras intenso. Praticamente em toda porta há alguém na calçada e, recentemente, algumas pessoas passaram a cozinhar comidas regionais e montar uma pequena estrutura na frente de casa para vender pratinhos. Numa esquina, uma churrascaria. Noutra rua, uma lanchonete. E dá-lhe gente batendo perna!

Há quem tema a periferia. Algumas são locais que despontam nas estatísticas da violência noticiada nos programas policiais da TV, mas sua população não só sobrevive como vive – e bem, obrigada: a maioria tem seus empregos, suas formas de lazer, conseguem reformar a casa, comprar um carrinho…

Gostaria que a periferia nunca pudesse ser tomada pelo acesso de isolamento com a rua proporcionado pelos condomínios e que continuasse a tê-la como a extensão da casa. A meninada que o diga: não faltam os rachas, os jogos com bilas e até as arraias (o terror dos fios de telefone e de energia!). E também o devem dizer o pessoal adepto a uma festinha, que armam a churrasqueira na calçada, arrumam cadeiras e mesas e ligam o som (alto, diga-se, porque nada é perfeito…).

Em suma, torço para que a periferia nunca deixe de ser periferia, que as pessoas nunca se desapeguem da rua e que continuem nesse vai-e-vem que dá tanta vida a esse setor especial da cidade.

Seu Fortunato

Por volta das oito da manhã, eis que ele aparece na parada do ônibus. Carrega consigo uma porção de garrafas térmicas daquelas grandes e uma caixa térmica. Já é um senhor de idade um tanto avançada, mas ainda paga passagem e, por isso, sobe com todas as suas coisas pela porta de trás. Basta passar a catraca para que ele comece a falar.

Seu Fortunato prega a palavra de Deus. E fala, às vezes, durante todo o percurso que vai de seu embarque até o terminal do Papicu. As lições que estão na Bíblia são exemplificadas muitas vezes por experiências de sua própria vida e de seu cotidiano. Dia desses, tornei-me um desses exemplos: seu Fortunato citou minha atitude de dar-lhe a vez na subida do ônibus como bom exemplo de jovens que respeitam os idosos.

Descobri que ele mora nas proximidades do meu bairro, pois de quando em vez o vejo passando pelas ruas – sempre sozinho. Dizem que ele tem filhos e posses suficientes para que não fosse necessário sair durante as manhãs para vender lanche. Outro dia, estava na rua da minha casa em um desses cultos que os evangélicos promovem em suas casas. Não falava. Cantava.

Nas vezes em que ouvi seus relatos e suas citações da Bíblia, nunca vi ninguém intervir no seu discurso. Mas acho que ele mesmo não espera isso das pessoas. O simples fato de espalhar uma mensagem bíblica, de afeto, de amor, de justiça e esperança – tão inerentes à história de Jesus – já deve lhe bastar. Alguma centelha deve ficar nelas.

Livraria da Calçada

O nome parece bem simpático, não? Lendo assim, podemos pensar que trata-se de um estabelecimento cuja calçada seja uma referência por ser diferente das demais ou por ter algo de atrativo nela. Literalmente, essa livraria a que me refiro é na calçada. Fica na esquina das ruas Pedro I com Major Facundo, no Centro de Fortaleza, na calçada de um prédio abandonado. Com uma escadaria curta e uma ampla calçada, o local foi adotado pelo vendedor de livros Alexandre como seu ponto comercial e espaço de exposição de sua mercadoria. O nome “Livraria da Calçada” está escrito em um cartão-adesivo que ele entrega aos transeuntes que param para dar uma olhada nos títulos.

Alexandre é um desses vendedores que demonstram muita atenção para com o possível cliente. Dá bom dia, diz para ficarmos à vontade e ressalta que está à disposição para tirar qualquer dúvida. Eu já passara pela Livraria da Calçada outras vezes, mas no último sábado parei um pouco para olhar o que havia por lá.

Comentei uma vez com colegas que o desejo de possuir livros é tamanho que, às vezes, necessito exercitar o auto-controle para me conter. Na Livraria da Calçada, não ouvi a voz da consciência nem estava disposta a isso – estava à procura de uma edição da Bíblia bilíngue ou trinlígue, o que significa que eu já estava aberta a iniciar a compra desembestada de livros.

Na borda do espaço reservado aos livros (um detalhe é que, ao contrário de outros vendedores do Centro, a Livraria da Calçada não impede o livre trânsito dos pedestres), encontrei um título de comunicação – minha área profissional. Peguei o livro, perguntei o preço, mas não comprei. Mantive o foco na Bíblia bi/trilíngue. Disse a Alexandre que voltaria dentro em pouco para comprá-lo.

Depois de algumas pesquisas sem sucesso, finalmente achei a Bíblia trilíngue – português, inglês e espanhol -, uma edição pocket, lançamento em segunda edição, a letra miúda de doer na vista dos que já acumulam alguns graus e têm de corrigi-los com óculos (não é o meu caso, ainda…). Depois de um pastel com caldo de cana do Leão do Sul na Praça do Ferreira, voltei à Livraria da Calçada. Pensei comigo: Alexandre não há de lembrar-se de mim. Ledo engano…

“Você voltou. Você gosta mesmo de livros”. Um doce para o Alexandre. Só com isso transpareceu a alma de vendedor. Um a zero para ele. Perguntei-lhe se tinha uma gramática de espanhol. Mostrou-me uma básica, no que lhe disse que precisava de uma mais completa, uma vez que estudava espanhol. Dois a zero para o vendedor: o cliente dera uma pista de um de seus interesses. Aliás, dei duas pistas: também procurava a edição em espanhol de A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, também em decorrência do curso de espanhol. “Eu não tenho esse, mas tenho este de Sidney Sheldon em espanhol.” Três a zero. “Um livro interessante que acredito que você gostaria de ler é ‘Nas margens do rio Piedra eu sentei e chorei’, pois fala bastante da Espanha”. Quatro a zero para o Alexandre, que se muniu de poucas informações a respeito de meus interesses literários para desempenhar sua arte de vender.

As técnicas de vendas de Alexandre não funcionaram como as tais balas mágicas da teoria da comunicação: não foram irresistíveis. Levei exatamente o livro de comunicação pelo qual me interessara a princípio, mas saí com uma boa impressão do Alexandre e de sua Livraria da Calçada. Ele disse-me que está organizando sua entrada no comércio pela internet através da Estante Virtual. Torço para que dê certo e ele continue incitando o desejo de outros compradores inveterados de livros Brasil afora.

Fortaleza em cartaz nos cinemas

A Praia do Mucuripe, a avenida Heráclito Graça, a Ponte dos Ingleses e outras paisagens de Fortaleza estão no filme Assalto ao Banco Central, que está atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros. A película, dirigida por Marcos Paulo, baseia-se no crime que deu um prejuízo de mais de R$ 160 milhões ao Banco Central da capital alencarina. Com grande perícia, a quadrilha responsável pelo crime construiu um túnel que levava ao cofre do banco e o montante roubado era inteiro composto de notas velhas de R$ 50. Embora a maioria das cenas tenham sido gravadas no Rio de Janeiro, as imagens de Fortaleza estão bastante destacadas no filme.

A respeito da narrativa, o diretor estreante, na minha opinião, não obteve muito sucesso, especialmente em requisitos como trilha sonora, fotografia e montagem. Não compreendo muito sobre o processo de produção cinematográfica, mas as falhas nos itens acima, para mim, ficaram patentes. Os recursos de flashback nas cenas alternadas entre a presença da Polícia Federal e da quadrilha na casa que era o QG dos assaltantes não ficaram bem feitas e as músicas de fundo que representavam drama era por demais exageradas.

Dentre  as atuações, destacaria somente a de Milhen Cortaz, que tem uma cara de mal extremamente verossímel, e de Vinícius de Oliveira, que faz um evangélico sensível e afeminado. Para mim, a forma de atuar em filmes e em novelas é bastante distinta; os demais atores parecem estar protagonizando personagens de uma novela. Lima Duarte, no papel de um delegado da Polícia Federal, demonstrava insegurança e Hermila Guedes errou a mão ao compor a personagem Carla, que ficou muito caricatural (vide sua boca aberta mastigando chiclete).

Na mão de um José Padilha da vida, penso que Assalto ao Banco Central teria sido uma grande obra cinematográfica.

Fonte da imagem: http://www.cinepop.com.br/filmes/assaltobancocentral.php

Fortaleza de bicicleta

O número de novos veículos circulando nas ruas desta capital alencarina tem aumentado, talvez, quase que exponencialmente. O fato é que possuir carro individual tem sido um dos sonhos mais realizados nos últimos dez anos. Bem, não vou mentir que também quero um dia ter o meu, mas, recentemente, realizei um sonho maior e que vem desde a época do ensino médio: ter uma bicicleta!

Quando criança, desbravava mundos e fundos do Pirambu, Carlito e Bairro Ellery de bicicleta junto a amigos da vizinhança. O fato é que minhas aventuras foram interrompidas quando meu pai decidiu (ele sozinho) vender minha bicicleta. Quando passei a estudar numa escola longe da minha casa, pedi à minha mãe que comprasse uma bike para mim, de forma que eu pudesse me deslocar com mais rapidez entre minha casa e a escola e vice-versa. A resposta ao pedido foi um NÃO bem redondo – não por maldade, mas por temor que minha bicicleta encontrasse o “verdadeiro dono”. Resultado: três anos à pé, ora no sol quente, ora sob chuva torrencial.

Ao contrário do que diz o poeta, tristeza tem fim e, finalmente, consegui minha tão sonhada bicicleta. Veio das mãos de meu namorado, sensibilizado que ficou pela minha história de frustrações sem uma bicicleta (uma pequena lágrima escorre do rosto dos leitores, posso ver!). Comprou-me um modelo muito bonito, com uma pintura branca com vermelho e prata. A novidade para mim ficou por conta das 21 marchas. Detalhe interessante: nunca havia tido bicicleta de marcha.

Fomos para o passeio inaugural. Destino: avenida Beira Mar via avenida Presidente Castelo Branco, a famigerada Leste-Oeste. Pensei que sentiria maior temor dos carros que passavam logo ao lado, mas consegui passar por eles são grandes dificuldades. Aliás, a dificuldade ficou completamente a cargo das marchas. Absolutamente não sabia como usá-las e cometi um pecado fatal: passá-las sem estar pedalando. Estava tensa, é verdade, quiçá aterrorizada! Cheguei ao destino, mas não parava de pensar na volta. Meu namorado já havia me alertado sobre a terrível subida da Leste Oeste, próxima ao Corpo de Bombeiros. Lá fomos nós e, novamente, encontrei-me às voltas com as marchas. Procurava por uma mais levinha, que não me fizesse cansar tanto, mas a realidade é que a primeira, de número 1, fazia minhas pernas doerem tanto quanto a mais pesada, de número 7. Finalmente, passamos pela subida terrível e chegamos em casa. Na avaliação de meu namorado, preciso melhorar muito! Nada que a prática não traga com o tempo.

Superequipada – Ainda não possuo todos os itens necessários a uma pedalada com segurança. Por exemplo, não tenho ainda a sinalização luminosa nem o sinal sonoro (senti falta dela quando tive de passar por trás de um carro que dava ré; o jeito foi gritar…), mas tomei “de empréstimo” o capacete amarelo com preto de meu namorado e um de seus shorts acolchoados (esse sim, diria, imprescindível para que não fiquemos com a poupança dolorida). Além desse material, é muito importante se alongar antes – isso evita dores posteriores e as temíveis cãibras.

Meio pedestre, meio condutor – Ao longo dos dois percursos que até agora fiz junto a meu namorado – que tem anos de experiência de bike pela cidade -, percebi que ser ciclista é um misto de pedestre e condutor. Por exemplo: se você se aproxima do semáforo, o ideal é reduzir a velocidade buscando não parar até que a luz verde de acenda, tal qual os carros fazem, geralmente. Mas se não for o suficiente, pare na faixa (claro, isso também depende do movimento do cruzamento e da localidade). No entanto, também é possível cruzar a faixa para mudar de sentido e pegar outra rua. Nos cruzamentos mais calmos, mesmo que estejamos na preferencial, é necessário dar vez ao motorista (aprendi isso depois de levar carão por ter passado na frente de um carro…).

Percebi que andar de bicicleta em Fortaleza é muito viável. Acho que o que basta é um pouco mais de respeito aos ciclistas e mesmo a implantação do sistema cicloviário, cuja lei já existe (Lei nº9701/10), oriunda de projeto do vereador João Alfredo. Quem sabe, assim, mais pessoas não iriam aderir às bikes!

Dias sem carro

Não comemoro o Dia Mundial sem Carro. Afinal, todos os meus dias SÃO sem carro. Sou usuária do transporte público de Fortaleza. Confesso que não por opção, mas por falta de. Se pudesse, certamente, teria um carro. A cidade cresceu, a demanda por transporte cresceu. No entanto, a infraestrutura necessária para dar conta disso tudo não cresceu junto.

Quando se pensa em fazer algo no Dia Mundial sem Carro, a maioria das pessoas pensa em usar a bicicleta em substituição ao automóvel. Eu, particularmente, não vi ninguém fazer qualquer reflexão sobre o transporte público. A bicicleta precisa ser, sim, um nicho importante da política de transporte, mas os ônibus, trens e metrô precisam ser igualmente incentivados.

O Dia Mundial sem Carro poderia ter sido uma ótima oportunidade para debater esses modais. Ao dar mais qualidade a eles, certamente o uso do carro particular seria colocado em segundo plano. Em uma cidade bem comunicada, com transporte público dando acesso a diferentes pontos da cidade e, especialmente, com rapidez e pontualidade, as pessoas pensariam duas vezes em comprar um carro.

Quando tenho que pegar um ônibus ou topic, preciso sair com uma hora de antecedência para chegar a tempo a meu destino. E com a possibilidade de congestionamentos, que têm sido cada vez mais constantes a qualquer hora do dia, a perda de tempo no deslocamento é maior.

No que se refere a rapidez, o metrô é um veículo incrível. Mas é triste saber que uma cidade espera há 12 anos pela conclusão das obras que trarão essa nova forma de deslocamento. Em uma cidade grande, onde a rapidez dos fatos e das informações imperam, as pessoas ainda se deslocam lentamente…